Homofobia ainda é realidade no Brasil
Comprovação é resultado de um estudo feito pela fundação paulista Perseu Abramo
ROBERTA MEIRELES
Às vésperas da 8ª Parada da Diversidade no Recife, pesquisa divulgada na última terça-feira mostra que a homofobia continua forte no Brasil. Estudo feito pela fundação paulista Perseu Abramo, intitulado "Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil: Intolerância e respeito às diferenças sexuais", de algum modo, 99% dos brasileiros têm preconceito contra o público LGBT. Em Pernambuco, uma prova da discriminação contra gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros é o número de homicídios de pessoas desses gêneros no Estado: 27 casos em 2008, segundo dados do Grupo Gay da Bahia.
De acordo com o coordenador do Projeto Diversidade Sexual como Direito do Instituto Papai, Thiago Rocha, que trouxe a pesquisa para o Estado, foram captadas nuances da homofobia velada. "Para perguntas como 'você deixaria sua amiga lésbica dormir na sua casa?', a maioria das pessoas respondeu que não sabia ou tinha dúvida, por exemplo", explicou. Ele comentou que há três dias seu companheiro foi discriminado. "Ele reclamou com pedreiros de uma construção que estava bloqueando o acesso de uma via, e começaram a falar 'ai, a bichinha' e coisas do tipo".
O preconceito da sociedade pode levar os homossexuais a se discriminarem. Esse é o caso do assistente de projetos da ONG Gestos, Sérgio Costa, que embora seja militante da causa, se autocensura. "Eu não combato a violência de frente. Não ando com meu namorado de mãos dadas na rua, nem troco carinhos com ele em ambiente hétero. Sei que se eu fizer isso vão me pedir para sair de lá. Tenho receio", disse. Segundo ele, a família e os amigos não o discriminam. "O que acontece às vezes é preconceito por parte da família dos meus amigos, que acham que o parente é gay só por andar comigo", contou.
Segundo o coordenador do Movimento Gay Leões do Norte, Rildo Veras, a homofobia no País é institucionalizada. "Principalmente nas unidades de saúde e nas escolas. Lugares que deveriam quebrar preconceitos têm fortalecido-os", falou. "A forma das lésbicas de praticar o sexo não é levada em consideração em exames ginecológicos, por exemplo". A empresária Maria do Céu, dona da boate gay Metrópole, contou que um amigo foi discriminado em uma delegacia de polícia. "Ele estava 'montado' (vestido como mulher), e foi renegado, não foi atendido".
Para Maria do Céu, embora a homofobia ainda seja forte, o movimento LGBT já teve muitas conquistas. "Agora os homossexuais estão reivindicando seus direitos. Em Pernambuco está se levando essa questão a sério, junto com os grupos de direitos humanos. As pessoas estão agindo de uma forma ativa e séria, se articulando para garantir a inclusão social", apontou. A Leões do Norte atualmente faz parte do Conselho Estadual de Saúde e da Gerência de Direitos Humanos.
Aids: diagnóstico e prevenção
Desde 1983, quando foi registrado o primeiro caso de aids em Pernambuco, mais de 12.800 pessoas foram infectadas pela doença e quase 5.000 já morreram em decorrência do vírus HIV. Do total de casos confirmados, cerca de 8.600 são homens e, aproximadamente, 4.100 são mulheres. Para diagnosticar novos casos e ajudar na prevenção, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) firmou uma parceria e recebeu um trailer, na verdade, um laboratório itinerante e que rodará a Região Metropolitana do Recife para fazer exames rápidos de diagnóstico do vírus da aids em gays, homens que fazem sexo com homens (HSH) e travestis. O "Projeto Quero Fazer", idealizado pela organização não-governamental Pact Brasil, atuará , dia e noite, em locais de grande concentração do público homossexual masculino.
O veículo levará especialistas que vão fazer o trabalho de educação em saúde e o teste rápido do diagnóstico do vírus HIV. A inovação permite que, com um furo no dedo e em apenas 20 minutos, o paciente saiba se está infectado ou não, respeitando a sua privacidade. Vale, aqui ressaltar, um dado importante destacado pelo coordenador do Programa Estadual de DST/Aids, François Figueirôa: "O principal desse trailer, que vai ampliar o acesso ao diagnóstico para gays, homens que fazem sexo com homens e travestis, é que ele poderá nos ajudar a aumentar a prevenção no público HOMOSSEXUAL masculino, que estamos focando mais". Segundo ele, os casos da doença no Brasil estão concentrados em populações específicas, como homossexuais, usuários de drogas, presidiários e profissionais do sexo.
Muitos deles desconhecem que possuem o vírus e deixam de usar a CAMISINHA no relacionamento sexual. Durante dois anos, técnicos de instituições públicas e privadas, além de profissionais do terceiro setor, vão se aliar nos trabalhos do trailer. A intenção é fazer o teste rápido no diagnóstico do vírus da aids em mais de 4.000 pessoas. No final das ações, o veículo será doado para a SES para que os trabalhos de prevenção tenham continuação. Finalmente, ressalte-se que esta iniciativa tem o apoio de Mariângela Simão, diretora do Programa Nacional de DST/Aids, Jeffery Bell, diretor da Agência dos Estados Unidos de América para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), e Lilia Rossi, diretora da Pact Brasil.
Fonte: Folha de Pernambuco
Enviado por: Anjocaco
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