"Fome Zero, orgasmo dez", diz o advogado e ex-vereador Arimatéia Dantas (PT), 41, criador do Dia do Orgasmo, celebrado hoje em Esperantina (PI), aproveitando o gancho de que o principal programa social do governo federal começou no Piauí.
Os piauienses estão divididos: alguns defendem a idéia, outros acham que isso não traz uma imagem positiva para o Estado.
O governador Wellington Dias (PT) fica em cima do muro, mas diz: "Temos que ter orgasmo todos os dias para suportar as adversidades da vida".
Já o prefeito de Esperantina, José Ivaldo Franco (PSDB), é contra. "Isso não é prioridade. Existem mil coisas mais sérias a fazer para melhorar a vida da população", diz.
O ex-vereador discorda: "O orgasmo liberta e leva as pessoas para um lado mais solidário, o que pode entrar em conflito com o sistema", afirma.
Para ele, o orgasmo tem um papel revolucionário. "Orgasmo: Endurecer sem Perder a Ternura", são os dizeres de uma das faixas que Dantas colocou na cidade, parafraseando Che Guevara.
Há dois anos, o prefeito vetou o projeto, aprovado por unanimidade na Câmara, que procurava instituir oficialmente a data no calendário da cidade. Com a repercussão do caso, os vereadores ficaram constrangidos e não derrubaram o veto do prefeito.
No entanto, desde então o Dia do Orgasmo começou a ser comemorado informalmente na cidade no dia 9 de maio. A idéia surgiu durante experiências práticas de Dantas, que percebeu que suas namoradas demoravam muito para atingir o orgasmo e ele não conseguia esperar por elas.
O evento está ganhando fôlego e repercussão internacional. Dantas já deu entrevistas para a imprensa de outros países, como Portugal, Cuba, Rússia e Reino Unido.
A urna eletrônica do orgasmo, um e-mail (orgasmomulher@ig.com.br) criado no ano passado para coletar opiniões, desabafos e sugestões, recebeu mensagens do mundo todo. "Há casos de mulheres casadas há mais de 15 anos que nunca tiveram um orgasmo", diz o ex-vereador.
Visualizando o potencial turístico do evento, uma agência de turismo do Piauí cedeu gratuitamente um ônibus para levar pessoas de Teresina para a pequena cidade de Esperantina, que tem 34 mil habitantes.
"Minha intenção é organizar um pacote para lá no ano que vem", diz Luiz Rodrigues Queiroz, da Embarque Turismo.
A Agência Folha acompanhou o percurso de cerca de 180 km da chamada "caravana do orgasmo". Sete pessoas a maioria de movimentos feministas, fizeram a viagem, além da reportagem.
"Mais pessoas iriam vir, mas desistiram na última hora porque não conseguiram se programar. Acho que o orgasmo não é prioridade na vida delas", diz a jornalista e atriz Glória Sandes, 55, que participa do Fórum de Mulheres Piauienses.
Para a psicanalista Dulce Silva, 56, pesquisadora do Núcleo de Estudos das Relações de Gênero da UFPI, o assunto ainda provoca muita resistência e é encarado com deboche.
"Mas mesmo quem debocha está trazendo o assunto para discussão, o que é positivo", diz ela, uma das palestrantes da noite.
"O povo meio que horroriza quando se fala a respeito, mas todo mundo gosta", diz o músico Ostiga Júnior, 27, que levou a namorada, a veterinária Aline Macedo, 23, para acompanhá-lo. "Claro, no Dia do Orgasmo eu tenho que estar com a minha mulher."
Alessandra Kormannda
Agência Folha, em Esperantina (PI)
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