09/09/2009

Pré-julgamento

A Justiça dos absurdos

wiki repórter: Capote - São Paulo-SP

Não faz muito tempo. Eu estava na fila para entrar na sala de cinema, em um grande shopping de São Paulo, quando vi, alguns metros à frente, duas mulheres trocarem um selinho, um rápido e terno beijo na boca. A princípio, achei um gesto corajoso. Ali, naquele lugar cheio de gente, imaginei que o casal pudesse ser vítima do preconceito de algum troglodita, mesmo em uma cidade cosmopolita como São Paulo.

Nada aconteceu e em seguida passei a observar as duas com curiosidade. Primeiro notei a diferença de idade entre elas, que era grande - uma aparentando algo em torno de 50 anos, outra pouco mais de 18. Depois, que continuavam fisicamente próximas. Sem se importar muito com as outras pessoas, a mais velha acariciava o rosto da mais nova, ajeitava os cabelos e fazia comentários que, deduzi eu, eram elogios à beleza da garota. Pois bem. Poucos minutos se passaram, eu ainda estava distraído ali, olhando as duas, quando um homem chegou e as abraçou, com um saco de pipoca nas mãos. Eram uma família: pai, mãe e filha.

Este episódio me veio à lembrança quando li a história do turista italiano, preso na piscina do Crocobeach, de Fortaleza, por dar um selinho na filha de oito anos. O pobre italiano foi enquadrado com base na nova lei 12.015, que define o estupro de vulnerável. Ele foi denunciado por um casal de Brasília, que estava na mesma piscina. É o cúmulo da falta de bom senso. Pior: polícia e Justiça, que deveriam fazer o papel moderador, embarcaram. Ontem, segunda-feira, o italiano continuava preso, à espera de um habeas corpus que não saia porque o juiz que está analisando o caso passou o fim de semana e o feriado pensando melhor sobre aquilo tudo.

Sim, a Justiça tem todo o direito de "pensar" - embora devesse, ao "pensar", considerar o prejuízo que a demora de uma decisão por ter.

Mas o que me intriga é que o critério adotado com o italiano, o tal "pensar melhor", não foi usado em dois casos recentes que ocorreram aqui em São Paulo em um espaço de menos de sete dias. No primeiro deles, na madrugada de domingo da semana passada, dia 30, um empresário de 29 anos atropelou, com seu BMW, um catador de latinhas em Itaquera. Não socorreu o rapaz e só foi preso em flagrante porque um taxista o seguiu até sua casa e o denunciou à polícia. O tal empresário tentou agredir policiais que foram à sua casa. Pagou fiança e vai responder por homicídio culposo (sem intenção de matar) em liberdade. Detalhe: não fez exame de dosagem alcoólica no sangue.

No outro caso, um rapaz de classe média alta atropelou um garçom no último domingo, na avenida Cidade Jardim. Não prestou socorro, parou na loja de conveniência de um posto de gasolina e foi preso ali porque um motoboy o seguiu e ligou para a polícia. O rapaz se recusou a fazer exame de bafômetro - embora policiais dissessem que parecia estar embriagado, e foi liberado depois de pagar fiança. Também vai responder por homicídio culposo em liberdade. Os dois episódios aconteceram no momento em que dados policiais revelam que 80% das pessoas que se recusam a usar o bafômetro acabam escapando de punições por falta de provas.

Eu incrível que um pai que tenha dado um selinho na boca da filha - hábito, por sinal, cada vez mais comum entre os jovens pais e mães de hoje - esteja preso, enquanto dois mauricinhos que atropelaram e mataram pessoas estão por aí de novo, a bordo de seus carros importados, pilotando impunemente. Esta é a Justiça brasileira.

Fonte: BrasilWiki!

Enviado por: Anjocaco

Um comentário:

  1. Enviado por: Rodrigo A. da Silva

    Quem nunca julgou que atire a primeira pedra! ... Fazemos rotineiramente sem perceber. Quem não ouviu certos pré-julgamentos do tipo:

    Paulinha está barriguda! Deve estar prenha. Ele reformou a casa e contruiu uma baita piscina! Deve esta metendo a mão na empresa! Você já observou padrão alto que aquele funcionário público leva! De onde sairá o sustento já que o sálario dele não passa de mil e poucos reais.

    Na minha opinião é uma questão de cultura.

    Não julgueis para não serdes julgado.

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