O motivo desse oásis de felicidade no meio do deserto é uma cacimba, um milagre em forma de minadouro d'água
02.05.2012 | Atualizado em 02.05.2012 - 06:32
Fotos: Arisson Marinho
Fotos: Arisson Marinho
Mesmo na seca, irmãos não cobram um centavo por "água mineral" |
Alexandre Lyrio
alexandre.lyrio@redebahia.com.br
Tudo em volta é só beleza. Bem-te-vis, rolinhas e até um sofrê sorriem cantos de alegria. A vegetação, enfim, é pintada de verde. Estamos no centro da seca, em uma das regiões mais castigadas pela estiagem na Bahia, e o cenário aprazível parece zombar da falta de chuva. O motivo desse oásis de felicidade no meio do deserto é uma cacimba, um milagre em forma de minadouro d'água.
alexandre.lyrio@redebahia.com.br
Tudo em volta é só beleza. Bem-te-vis, rolinhas e até um sofrê sorriem cantos de alegria. A vegetação, enfim, é pintada de verde. Estamos no centro da seca, em uma das regiões mais castigadas pela estiagem na Bahia, e o cenário aprazível parece zombar da falta de chuva. O motivo desse oásis de felicidade no meio do deserto é uma cacimba, um milagre em forma de minadouro d'água.
Instalada em um sítio isolado às margens da BA-381, a exatos oito quilômetros de Itiúba, semiárido baiano, a cacimba, e tudo o que está a alguns metros dela, é um impressionante contraste perto de todo o resto. Enquanto quase a totalidade dos rios, açudes e outras fontes está vazia naquela região, a cacimba permanece doando um bem precioso em qualquer tempo, principalmente em períodos como o atual.
Dali, sai água inesgotável para vários povoados, comunidades, fazendas e lugarejos próximos. E o melhor. A qualidade da água é considerada excelente. "É o mesmo que mineral", repetem os romeiros da sede. Sim, o lugar é quase um ponto de romaria para os moradores que sofrem com a falta d´água. "Isso aqui é a nossa salvação, meu amigo. É água boa mesmo. Água de beber sem precisar nem filtrar", garante João Barros de Souza, 78 anos, morador do povoado de Vasinha da Zoleira, a três quilômetros da fonte. Por lá, aparecem também gente de Jacuri, Taquara, Piaus, Camandaroba, Andorinha e muitos outros municípios e lugarejos.
Mutirão limpa cacimba pela primeira vez desde 1999. Apenas três dias para que fonte voltasse a abastecer famílias com água boa
Soberanos
Em terra de seca, quem tem uma cacimba é rei. Os irmãos Adão e André Carvalho, donos da propriedade onde fica a cacimba, reinam soberanos em pleno sertão. Mas, o que seria fonte de poder e dinheiro é um minadouro de solidariedade. No momento em que a água tá valendo ouro pelas bandas de Itiúba, os irmãos poderiam acumular uma boa quantia e até poderiam ficar ricos. Isso se cobrassem um valor pela 'especiaria'.
Mas, Adão e André não cobram um centavo pelos mais de 45 mil litros de água retirados de sua cacimba. "Deus nos presenteou com essa água para ajudar o próximo. Seria um pecado cobrar por ela em um momento como esse", diz André, 38 anos. Basta chegar a pé ou encostar o carro. Quem quiser pode levar água. Há apenas duas regras. A primeira é que não é permitido caminhões-pipa no local. A segunda é que cada pessoa pode carregar apenas 400 litros de água.
Infinita
Mas, o que faz dessa cacimba uma fonte infinita? Até o rio que passa pela mesma propriedade de Adão e André, um dos afluentes do rio Jacuriri, secou completamente nesse período. "Essa cacimba tem 32 minadouros d´água. Deve ser água subterrânea. Cai devagarinho e sempre", explica Adão. No final das contas, a cacimba foi um verdadeiro achado para a equipe do CORREIO. O lugar acabou sendo encontrado por acaso.
Mas, o que faz dessa cacimba uma fonte infinita? Até o rio que passa pela mesma propriedade de Adão e André, um dos afluentes do rio Jacuriri, secou completamente nesse período. "Essa cacimba tem 32 minadouros d´água. Deve ser água subterrânea. Cai devagarinho e sempre", explica Adão. No final das contas, a cacimba foi um verdadeiro achado para a equipe do CORREIO. O lugar acabou sendo encontrado por acaso.
O fotógrafo Arisson Marinho resolveu descer do carro para registrar a miséria dos pastos sem capim e deu de cara com um grupo de vaqueiros a cavalo, que revelou o tesouro sem qualquer cerimônia. "Ali perto tem um lugar com água boa", indicaram. "Como assim, água? Tá tudo seco por aí", espantou-se o fotógrafo. "Mas lá tem água, sim. E não acaba nunca". Voltamos uns 800 m pela estrada, descemos um barranco e lá estava o oásis, cercado de verde.
Leito do rio que corria na propriedade da família Carvalho. Mas da cacimba continua brotando água para abastecer vários povoados próximos
Leito do rio que corria na propriedade da família Carvalho. Mas da cacimba continua brotando água para abastecer vários povoados próximos
Fonte: Correio 24 horas
Nenhum comentário:
Postar um comentário